“Desci do Céu”

Deus é Onipresente – os teólogos trinitários celebram com júbilo quando falam em onipresença. Evidente que eu concordo que Deus é Onipresente. Uma maneira precisa de falar em onipresença é: “Deus não está limitado no que diz respeito à localização“. Localização, em relação ao que é infinito, apresenta problemas reais para o trinitário quando se fala de encarnação. A maioria dos trinitários acredita que o Deus Filho (Jesus) pode ser originalmente localizado no Céu, mas mudou-se para a terra por um tempo, e depois se mudou novamente para o céu. Como, então, é Deus, o Filho, infinito? Além disso, alguns notáveis trinitários têm promovido a ideia de que Deus, o Filho, permaneceu no céu mesmo enquanto ele “descia do céu” mudando-se para a terra. Problema resolvido? Dificilmente.

Em que sentido Cristo “esvaziou-se” se Ele permaneceu completamente Deus no céu? Em que sentido Cristo “se fez carne” se Ele permaneceu completamente Deus no céu? Como Cristo poderia ser tentado pelas glórias patéticas da terra se Ele permaneceu plenamente Deus no céu? Como poderia Cristo ter medo de ter sua alma deixada no inferno, se Ele permaneceu completamente Deus no céu? Como poderia Cristo, na cruz, se sentir separado do seu Pai, se Ele permaneceu totalmente Deus no céu, indivisível e inseparavelmente ligado a Tríade Divina? Como poderia Cristo verdadeiramente morrer se permanecesse completamente Deus no Céu, incapaz de morrer? Será que o Deus Filho observava do céu seu corpo morrendo na cruz?

Os que defendem a preexistência de Jesus usando João 6:31-56 parecem desatentos com um detalhe extremamente curioso. Vou apresentar aqui  dois versículos dessa  passagem citando-os  separadamente: “Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo… Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne [meu corpo], que eu darei pela vida do mundo” (João 6:51,63).

O corpo de Jesus não foi gerado nas dependências celestiais. Se o pão que desceu do céu é a carne/corpo de Jesus, então ele não veio do céu. Seu corpo é terreno; não pode ter vindo do céu. Porém, a interpretação convencional insiste: “mas a Bíblia diz, Porque eu desci do céu“. Eles não procuram dar uma olhadela no contexto que, como sempre digo, é o inimigo número um dos trinitarianos.

Cristo está falando metaforicamente quando declara: “Porque eu desci do céu”. Entendemos isto simplesmente observando o contexto, que fala do maná que descia do céu. Só a alma mais ingênua poderia acreditar que Deus tinha armazéns literais de maná no céu, e que esta substância viajou através das dimensões em rota para a terra; “desceu do céu”, é entendido no sentido de que a fonte do maná é Deus – que Deus forneceu. Da mesma forma Cristo. Ele foi “enviado do céu”. Ele desceu do céu, mas não como um ser preexistente.

Vamos aos textos

João 6:33, nas palavras de Jesus, registra: “Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu.” João 6:38 acrescenta: “Eu desci do céu“.

Em João 6:51 o Senhor repete: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu“. E finalmente em João 6:58; “Este é o pão que desceu do céu“.

Os trinitarianos e os defensores da preexistência de Jesus acreditam que aqui nos versículos expostos estão as provas de que Jesus existia no céu antes de vir a este mundo.

Desceu Jesus literalmente do céu? O capítulo 6, v. 38 do evangelho de João aparentemente responde a esta pergunta. Jesus disse: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou”. Não devemos apressadamente chegar à conclusão trinitariana. O tema não é tão simples como parece à primeira vista. É preciso cavar mais fundo. Há boas razões para acreditarmos que a ação em descer do céu não seja literal, mas figurativa. No versículo 31 do mesmo capítulo, há menção do “maná” enviado do céu no Velho Testamento. Este era um tipo de pão que Deus proveu, por um milagre, para o seu povo enquanto eles estavam no deserto. As palavras do versículo 31 são: “Ele (Deus) lhes deu pão do céu para comer“.

Aqui, obviamente, o contexto está tratando de uma linguagem figurada. Este pão milagroso não foi cozido no céu e nem armazenado em gavetas até chegar a terra. A afirmação de que ele veio do céu nos informa que o Deus do céu foi o provedor direto. Estas palavras são tomadas em linha reta a partir do Novo Testamento em Tiago 1:17, que diz que toda boa dádiva vem “do alto, descendo do Pai”.

A Bíblia não diz que as “boas dádivas” descem literalmente do céu, a menos que você esteja procurando uma tradução trinitária distante. Jesus desceu do céu? Sim? Então todas as “coisas boas” também descem do céu e se encarnam!

O que o Senhor quis dizer com estas palavras difíceis, “Eu desci do Céu?” Uma compreensão da analogia com o maná fornece a chave para o correto entendimento desta passagem.

O maná é descrito como “pão do céu” (João 6:32), e o Senhor comparou-se ao maná anti-típico ou “pão do céu” (vv. 32-33). Será que esta descrição significa que o maná foi fabricado no céu, na morada de Deus, e flutuou em uma nuvem grossa todas as noites através dos espaços ilimitáveis acima para o deserto embaixo?

O pão “do céu” (v. 31) não significa que ele realmente foi fabricado no céu e desceu através da atmosfera, mas sim que ele foi produzido na terra pelo poder de Deus. “Do céu”, portanto, enfatiza a origem divina do pão. Esse é o sentido, portanto, no qual devemos entender as alusões do Senhor a si mesmo. Da mesma forma, Cristo desceu do céu, não literalmente, já que foi o Espírito Santo, que desceu sobre Maria, para efetuar a concepção. (Lucas 1:35). “Do céu”, enfatiza sua origem divina como uma pessoa (isto é, do seu pai, Deus) e a origem divina do seu ensinamento.

Devemos notar que as palavras deste capítulo 6 de João foram consideradas palavras duras: “duro é este discurso”, (v. 60). Esse discurso foi seguido por um ainda mais difícil: “E se vós virdes o Filho do Homem subir para onde ele estava antes?” Tão ridículo isso soou para alguns dos discípulos de Jesus que eles o deixaram (v. 66). E isso é prova conclusiva que eles não sabiam nada da teoria de um Cristo pré-existente. Veja: “Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu. E diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?”, vv. 41,42.

Além disso, considere o título que o Senhor usou. Ele se descreveu como “Filho do Homem”. Como um ser pré-existente pode ser Filho do Homem? E mais ainda: Como conciliar que um filho de homem poderia “subir para onde ele estava antes?” Como entender o real significado desse texto?

Alguns mestres das Escrituras atestam que aqui, Deus, pelo Seu Espírito, desceu a terra para prover uma raça humana capaz de vencer o pecado e, tendo feito isso, Ele o retirou (Jesus) para o céu, tendo mudado sua natureza de um corpo de carne para um corpo espiritual, o que poderia ser entendido que um ser espiritual é corpóreo (1 Coríntios 15: 44-45). Assim, Jesus, pelo Espírito, ascendeu onde (O Espírito) estava antes, embora em uma forma diferente: Desceu como o poder de Deus e ascendeu como um Filho do Homem tornado imortal. Outros acreditam que aqui Jesus falava de sua morte e ressurreição nas palavras “subir para onde estava antes”, que poderiam ser entendidas como subir da sepultura voltando para o meio deles outra vez, o que faz mais sentido com o contexto.

Este fato é claro a partir do estudo do contexto. Porque os tradutores optaram por traduzir o grego anabaino como “ascender”, as pessoas acreditam que é uma referência à ascensão de Cristo da terra como registrado em Atos 1: 9, mas Atos 1: 9 não usa esta palavra. Anabaino simplesmente significa “subir”. É usado para “subir” a uma elevação mais alta como subir uma montanha (Mateus 5: 1, 14:23); de Jesus “subindo” da agua no seu batismo (Mateus 3:16, Marcos 1:10). E como todos sabem, o batismo é um símbolo da morte e da RESSURREIÇÃO.

O contexto confirma que Jesus estava falando sobre ser o pão do céu, que ele daria a sua vida através de sua ressurreição. Versículos como o 39, 40 e 44 confirmam isso. Jesus repetidamente disse: “Eu o ressuscitarei [cada crente] no último dia“. Cristo estava surpreso porque alguns de seus discípulos ficaram ofendidos com seu ensinamento. Ele estava falando da ressurreição, e eles se escandalizaram, então ele perguntou se eles poderiam ficar ofendidos se o vissem ressuscitado, o que infelizmente foi traduzido como “ascender” no versículo 62. Jesus poderia ter feito uma pergunta retórica: “Se as pessoas tropeçam em mim agora, o que farão quando me virem levantar dos mortos?”

Quem “desceu” foi o Espírito, não Jesus

Se a nossa envelhecida Ortodoxia Protestante desejasse, pelo menos, literalizar as palavras, desci do céu, poderia ter um razoável sucesso se as interpretassem segundo as circunstâncias de seu nascimento. O anjo disse a sua mãe: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus”, Lucas 1:35. O que gerou Cristo (O Espírito) desceu do céu.

Porém, a revelação nos conduz para outro caminho: Jesus era “o Filho unigênito de Deus” e, portanto, de cima. Paulo ensinou que “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19).

Uma maneira melhor de entendermos as palavras de Jesus em João 6 seria compará-las com palavras semelhantes faladas em João 16: 28-30:

Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai. Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não dizes parábola alguma. Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus.”

Em João 16:28, Jesus afirmou que ele “saiu do Pai”. Em João 6:38, Jesus disse que “desceu do céu”. Estas duas frases significam a mesma coisa. Basta apenas observar o que os discípulos disseram no verso trinta. Quando eles ouviram Jesus dizer: “Saí do Pai”, entenderam que o ensinamento dele era de Deus. Os discípulos disseram: “Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus.” Este, “por isso cremos que saíste de Deus”, não foi um aviso de que eles entenderam que Jesus era preexistente, mas que ele foi enviado de Deus, ensinado por Deus e autorizado por Deus e, o mais importante: é Filho de Deus.

Os discípulos entenderam a declaração de Jesus de que ele “saiu do Pai” de forma diferente da ortodoxia tradicional. Os discípulos compreenderam que Jesus estava falando do seu conhecimento e sabedoria. Os discípulos não confundiram suas palavras para significar que Jesus havia preexistido no céu, ou que ele tinha descido do céu levando sua habitação para a pessoa de Maria como um embrião, que mais tarde teria sido habitado pelo ser celestial preexistente. Como sabemos disso? Porque Jesus confirmou que os discípulos tinham interpretado o significado de “que vem de Deus” corretamente, pois ele respondeu positivamente a sua confissão de fé, respondendo-lhes: “Credes agora?”

Os discípulos acreditaram com razão, que Jesus “vindo do céu” era nada mais do que uma referência a Jesus como aquele que “sabia todas as coisas”, que era o Messias prometido, a pedra, o salvador, e que Jesus não precisa ter alguém para dizer-lhe qualquer coisa. Em suma, “vindo de Deus” é uma abreviação para “sendo ensinados por Deus e Deus ensinando aos homens.”.

Nós encontramos essa figura de linguagem também em João 6:42, onde os judeus perguntam: “Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz agora: Desci do céu?” Os judeus tropeçaram nas palavras de Jesus porque a tomaram literalmente. Na tentativa de explicar o que queria dizer, Jesus escolheu citar o Antigo Testamento:

Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus” (João 6:45)

Ensinar através de Deus, portanto, é o equivalente a “vindo de Deus”, de acordo com Jesus. O último é uma figura de linguagem, e não deve ser tomada literalmente. Se continuarmos a ler mais em João 6, veremos que Jesus fala muitas vezes em sentido figurado. Por isso Jesus se compara ao maná do céu. João 6:51 diz: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu“. Aqui Jesus está falando em sentido figurado – não literalmente – pois ele se compara ao pão celestial (o maná), que sustentou os israelitas no deserto por quarenta anos. Jesus, então, continua a dizer que devemos comer sua carne e beber seu sangue. Os protestantes tomam as palavras de Jesus aqui, literalmente? Não, não tomam. Então, por que eles ensinam que Jesus fala literalmente quando ele diz: “Eu desci do céu”?

Caro amigo leitor, lembre-se novamente que em João 6:31 o maná é referido como “pão do céu”. A tradução literal é “pão do céu”. Foi o maná cozido pelos anjos no céu, ou pelo próprio Deus, e depois atirou em direção a Terra à velocidade da luz, só para pousar no chão do deserto do Sinai? Não! Quando alguma coisa (ou outra) é descrito como tendo vindo de Deus, isso significa que a sua fonte pode ser atribuída a Deus. A fonte do maná pode ser atribuída a Deus, por isso o maná é descrito como “pão do céu”. Da mesma forma, a “fonte” de Jesus é Deus, e, portanto, Jesus poderia afirmar corretamente que ele veio do céu (isto é, de Deus), assim como o maná no deserto veio do céu. Mas tal afirmação não significa ter Jesus preexistido no céu antes do seu nascimento – não mais do que fez o “preexistente” maná no céu antes de aparecer no deserto do Sinai.

Deus enviou seu Filho

Deus é a fonte de Jesus Cristo. Cristo foi o plano de Deus, e então Deus gerou diretamente Jesus. Há também versículos que dizem que Jesus foi “enviado de Deus”, uma frase que mostra Deus como a fonte final do que é enviado. João Batista era um homem “enviado de Deus” (João 1: 6), e foi ele quem disse que Jesus “vem de cima” e “vem do céu” (João 3: 31).

Ainda outro exemplo é quando Cristo estava falando e disse: “O batismo de João – de onde ele veio? Foi do céu ou dos homens?” (Mateus 21: 25). Naturalmente, o modo como o batismo de João teria sido “do céu” era se Deus fosse a fonte da revelação. João não teve a ideia por si mesmo, ela veio “do céu”. O versículo torna o idioma claro: as coisas poderiam ser “do céu”, ou seja, de Deus, ou poderiam ser “dos homens”. Assim, quando os termos são usados em relação a Jesus: Jesus é “de Deus”, “do céu” ou “de cima”, o sentido é que Deus é seu Pai e, portanto, sua origem.

A ideia de vir de Deus ou de ser enviado por Deus também é esclarecida pelas palavras de Jesus em João 17. Ele disse: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (João 17: 18). Nós entendemos perfeitamente o que Cristo quis dizer quando declarou: “Eu os enviei ao mundo“. Ele quis dizer que ele nos encomendou, ou nos nomeou. Ninguém pensa que estávamos no céu com Cristo e encarnados na carne. Cristo disse: “Como tu me enviaste, eu os enviei“. Tomamos a frase “Cristo nos enviou” para entender como Deus enviou Cristo.

O Filho foi enviado como um homem, e não como Deus: “Deus enviou seu Filho feito de uma mulher” (Gálatas 4: 4). Paulo se refere a um evento que teve lugar em um determinado ponto no tempo. A palavra enviou não deve significar que Deus enviou seu Filho do céu, mas que ele foi enviado a partir do seu nascimento. Isso significa que ele veio de Maria. A palavra “enviado” não significa pré-existência, mas sim sua origem, quando foi enviado através de uma Mulher: “Deus enviou seu filho, nascido de mulher”.

Deus seja louvado

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