Observamos em todos os relatos sobre Jesus de Nazaré que Ele suportou todas as consequências da queda. Podemos ver semelhanças entre ele e Adão quando foi tentado, o que ensina que ele podia ter uma tendência irresistível para o pecado, embora saibamos que ele não os cometeu.
Também observamos em Cristo outras características inerentes aos seres humanos, que são: sofrimento e morte física. Assim, Cristo claramente exibiu características que pertencem à humanidade caída. Poderíamos, então, chamá-lo caído? Acredito que não, embora seja necessário fazer aqui algumas perguntas: Foi Ele inerentemente caído? Ou seja, eram: tentações, sofrimentos, corrupção e mortalidade enraizadas em sua natureza humana ou era ele livre dessas consequências da queda, mas voluntariamente Ele assumiu algumas dessas consequências, chamando-as de paixões inocentes? São tais paixões elementos essenciais da humanidade de Cristo que teve que assumi-las, necessariamente, a fim de ser plenamente humano ou Ele exerceu um controle oculto ( negado aos outros humanos ) divino sobre elas?
Obviamente a resposta é não, pois o Senhor Jesus foi plenamente humano, trazendo todas as características dos nascidos de parto normal, o que Paulo claramente declarou em Gálatas 4:4,
“Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”.
Ou nós enfrentamos o significado real da humanidade de Cristo como “a semente de Abraão” (Heb 2:16) e “a semente de Davi” (Rom. 1:03), ou desistimos do debate deixando a tarefa para outros. Por quê? Pelo fato de haver questões importantes a serem respondidas, como por exemplo: Será que Jesus realmente nos entende? Ou, se colocamos de outra forma, poderia ele ter sido um ser celestial remoto que tinha uma vantagem sobre nós? Foi Ele realmente tentado em todos os pontos como nós somos? Ele pode realmente ser um sumo sacerdote perfeito? Se a discussão sobre a cristologia deve mesmo frutificar e construir nossa fé, então não podemos escapar a realidade das Escrituras.
Não é de admirar que hoje possamos encontrar uma multidão de cristãos protestantes, sem contar àqueles pertencentes ao catolicismo, crendo que a manifestação de Jesus ao mundo foi uma teofania de Deus habitando no Jesus que era meio homem e meio Deus, sendo que Deus ficava na outra metade, literalmente. Ou seja, Jesus tinha um corpo especial e divino por que Deus habitava nesse corpo. Com isso, sem que percebam, sugerem muito timidamente que Jesus não podia ter um corpo como o nosso, já que era Deus. Na verdade, o que muitos tentam dizer, mas não fazem de forma aberta, é que Jesus era um DEUS. Isso significa negar que ele veio em carne. O Apóstolo Paulo não conhecia Jesus dessa forma,
Hebreus 2:14 diz, “Portanto, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que por sua morte destruísse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo”.
Ele deve ser semelhante a nós em todos os sentidos, exceto para o pecado.
Hebreus 2:17 ensina: “Por isso, em todas as coisas que convinha que ele fosse feito semelhante a seus irmãos, que ele poderia ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisas concernentes a Deus, para fazer reconciliação para os pecados do povo”. Se ele seria o nosso grande Sumo Sacerdote, ele foi tirado de entre nós e foi identificado com a gente, portanto, ele não tomou sobre si a natureza dos anjos, mas a natureza humana do homem. Hebreus 2:16 Porque em verdade ele não tomou sobre ele a natureza dos anjos, mas ele tomou sobre si a semente de Abraão.
O contrário dessa realidade é uma das maiores tragédias do pensamento cristão, que tira do Senhor Jesus Cristo respeito e exaltação, que eram devidos a ele por causa da sua vitória sobre o pecado, através do desenvolvimento de um caráter perfeito. A doutrina amplamente sustentada da “trindade” faz de Jesus o próprio Deus. Visto que Deus não pode ser tentado (Tiago 1:13) e não tem possibilidade de pecar, isto significa que Cristo realmente não teve que lutar contra o pecado. Assim, sua vida na terra teria sido uma simulação, experimentando a existência humana, mas sem um sentimento real do dilema espiritual e físico da raça humana, visto que pessoalmente ele não seria afetado por isto.
Há quem tenha sugerido que durante a sua vida, a natureza de Cristo foi como a de Adão antes da queda. À parte da falta de evidência bíblica para esta visão, ela falha em considerar que Adão foi criado por Deus do pó, enquanto Jesus foi “criado” através da geração de Deus no útero de Maria. Assim, embora Jesus não tivesse um pai humano, ele foi concebido e nasceu como nós em relação a tudo o mais. Muitas pessoas não podem aceitar que um homem com a nossa natureza pecadora pudesse ter um caráter perfeito. Este fato é um obstáculo a real fé em Cristo.
Não é fácil acreditar que Jesus era da nossa natureza, mas não tinha pecado no seu caráter e sempre venceu suas tentações. Para chegar a um entendimento e fé firmes no Cristo verdadeiro é preciso muita reflexão sobre os relatos do Evangelho acerca da sua vida perfeita, associada a muitas passagens bíblicas que negam que ele era Deus. É muito mais fácil supor que ele era o próprio Deus, e por isso, automaticamente perfeito, embora esta visão reduza a grandeza da vitória que Jesus conquistou contra o pecado e a natureza humana.
Paulo diz que ele foi feito “… à semelhança de homens…” em Filipenses 2:7. Ele era um homem e todos os homens são do mesmo tipo de carne. 1 Coríntios 15:39 Nem toda carne é a mesma carne: mas há um tipo de carne dos homens, outra a carne dos animais, outra de peixes, e outra de aves. João afirma que Jesus veio como um ser humano em I João 4:2, 3,
“Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo”.
Aqui a carne não deve ser tomada exclusivamente por uma parte do homem, mas para toda a natureza humana, incluindo a alma com a carne. A palavra carne neste versículo significa “natureza humana em sua totalidade, como consistindo em um verdadeiro corpo e uma alma racional”. Carne aqui descreve o homem como um todo, como ele é composto de corpo e alma, como um ser terreno, em oposição a Deus. Carne aqui não significa uma parte do corpo, nem todo o corpo apenas, mas toda a natureza humana, consistindo em um verdadeiro corpo e uma alma racional. Foi uma verdadeira natureza humana, e não um fantasma, ou a aparência. As palavras de João ficam melhor entendidas se vistas pela tradução da BLH, que atesta,
“É assim que vocês poderão saber se, de fato, o espírito é de Deus: quem afirma que Jesus Cristo veio como um ser humano tem o Espírito que vem de Deus. Mas quem nega isso a respeito de Jesus não tem o Espírito de Deus; o que ele tem é o espírito do Inimigo de Cristo. Vocês ouviram dizer que esse espírito viria, e agora ele já está no mundo”, 1 João 4:2, 3·.
Ele não trouxe qualquer elemento divino, transcendente – um corpo angelical endeusado quero dizer. A Ele foi dado a sua verdadeira natureza humana no ventre de Maria.
Ele é chamado o fruto do ventre. Lucas 1:42 E exclamou em alta voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.
Ele nasceu da mesma forma que todas as crianças nascem. Salmo 22:9-10 Mas tu és o que me tiraste do ventre; fizeste-me confiar, estando aos seios de minha mãe. Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe. Ele se desenvolveu em estatura como qualquer outra criança e jovem. Lucas 2:52 E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e do homem. Ele assumiu a semelhança de carne pecaminosa, mas não o pecado da natureza carnal. Romanos 8:3 “… Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne”. Para ele assumir os nossos pecados, Deus tinha que fazê-lo com um corpo semelhante ao nosso: 2 Coríntios 5:21 Pois ele o fez pecado por nós, que não conheceu pecado, para que pudéssemos ser feitos justiça de Deus nele.
Ele tinha natureza humana, ele compartilhou cada uma das nossas tendências pecaminosas (Hb. 4:15), no entanto, ele as venceu pela sua obediência aos caminhos de Deus e busca da Sua ajuda para vencer o pecado. Isto Deus deu de boa-vontade, ao ponto de “Deus estar em Cristo, reconciliando consigo o mundo” (2 Co. 5:19).
Como as pessoas viam Jesus?
Jesus levou uma vida humana normal, tão humana e normal, que as pessoas de Nazaré que o conheciam melhor ficaram surpresas com o fato de conseguir ensinar com autoridade e realizar milagres. Eles o conheciam. Jesus era um deles. Jesus era “o filho do carpinteiro” (Mat 13:55), e ele próprio era “carpinteiro” (Mc 6.3), tão comum que perguntaram: “Donde lhe vem, pois tudo isso?” (Mat 13.55). E João nos diz que: “… nem mesmo seus irmãos criam nele” (Jo 7.5). Seus irmãos eram judeus, crentes no Deus de Abraão, Isaque e Jacó… Por que eram incrédulos em Jesus se ele era Deus?
Mateus registra um incidente curioso, e que pode nos trazer alguma luz para esse assunto. Ainda que Jesus tivesse ensinado por toda a Galileia, “curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo”, de modo que “numerosas multidões o seguiam” (Mt 4.23-25), quando chegou à própria cidade de Nazaré, o povo que o conhecia havia muitos anos não o recebeu como Deus, pois ali ele nem conseguiu fazer muitos milagres..
Dizem as Escrituras que Jesus, chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte que se maravilhavam e diziam: “Donde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos? Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto? E escandalizavam-se nele. [ …] E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles” (Mt 13.53-58).
Essa passagem indica que aqueles que mais conheciam Jesus, os vizinhos com quem vivera e trabalhara por trinta anos, consideravam-no não mais que homem – certamente não o viam como o próprio Deus encarnado. Os que viveram e trabalharam com ele por trinta anos, mesmo os irmãos que cresceram na casa dele, não percebiam que era um tanto superior a outros seres humanos muito bons. Ao que parece, também não perceberam que fosse Deus vindo em carne.
Afinal de contas, se Maria e os próprios irmãos do Senhor tivessem sido ensinados, e, cressem piamente e teologicamente que Jesus era o próprio Deus em pessoa, por que então saíram para prendê-lo acreditando que estivesse fora de si? Quem trataria Deus dessa forma? Por favor, leiam Marcos 3:20-35.
Parece inacreditável, mas é verdade!