É apenas uma mera coincidência que há exatamente três versos em todo o Antigo Testamento afirmando que Deus não é homem e nem filho do homem? Eu não acho que isso seja uma mera coincidência. No entanto, eu acredito que seja uma enorme contradição estes versículos negarem que Deus é homem ou filho de homem e ao mesmo tempo a teologia convencional cristológica afirmar que o Filho do homem seja denominado Deus.
O Novo Testamento descreve Jesus como homem e filho do homem em muitos lugares. Atos 2:22 deixa bem claro que Jesus era um homem,
“Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis“.
Observe que Pedro aqui não usa o script evangelista que Jesus é Deus-homem ou homem-deus. Pedro apenas afirmou a nossa posição de que Jesus era um homem que Deus escolheu.
O termo “Filho do Homem”, ocorre exatamente 82 vezes nos quatro evangelhos e quatro vezes adicionais em outras partes do Novo Testamento – 30 vezes em Mateus, 14 vezes em Marcos, 25 vezes em Lucas, 13 vezes em João, 1 vez em Atos, 1 vez em Hebreus e 2 vezes em Apocalipse.
A frequência em que o termo é usado por Jesus nos Evangelhos é uma das razões que levaram os estudiosos da Bíblia considerá-lo como um título específico para ele. Porém, muitos teólogos também entendem que o título filho do homem, quando aplicado aos vários personagens do Velho Testamento, deve significar apenas que são nascidos de mulheres, e que essa visão interpretativa pode ser usada como referência para Jesus. Desta maneira, muitos acreditam que Jesus não deveria ser excluído de Números 23:19. O versículo diz,
“Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?”
Logo, entendem que Jesus não pode ser Deus, sendo ele Filho do Homem, descendente de Abraão e Davi. A parte fundamental no versículo é, “lo’ ‘iysh ‘êl viykhazzêbh ubhen-‘âdhâm veyithnechâm”. A negação ocorre no início da frase, e o que isto significa, literalmente, é “Não é verdade que Deus é um homem para mentir ou filho do homem para mudar de ideia“. A negação é distribuída a cada frase que então produz, “Deus não é homem, e Ele não mente, Ele não é o filho do homem e ele não se arrepende“. O texto não faz de Jesus um homem que mente e se arrepende, mas apenas mostra o contraste entre os seres humanos e Deus, sendo que Jesus está na categoria dos humanos.
Podemos observar em muitos versículos que Jesus foi conhecido como homem e o filho do homem. Em contraposição, o versículo 19 de Números 23 diz que Deus não é nem homem, nem o filho do homem, e pior, nos originais deveria ser traduzido da seguinte forma: “Deus não é nem homem, nem filho de Adão”. Quando trazemos esses dois registros juntos não chegamos à conclusão de que Jesus não é Deus? Aliás, o próprio Jesus nega que ele fosse Deus,
Jesus falou a um homem que o havia chamado ‘bom’, pedindo-lhe: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus“(Lucas 18:19). Se Jesus tivesse dito às pessoas que ele era Deus, ele teria elogiado o homem. Em vez disso, Jesus o repreendeu, negando que ele era Deus.
Jesus é chamado de um homem muitas vezes na Bíblia
“Um homem que lhe disse a verdade” (João 8:40)
“Ele julgará o mundo com justiça por meio de um homem a quem constituiu” (Atos 17:31)
“Cristo Jesus, homem” (Tim. 2:5).
A Bíblia muitas vezes chama a Jesus “o filho do homem”.
“… o Filho do homem “(Mateus 12:40).
“… o filho do homem há de vir” (Mateus 16:27).
“Mas, para que saibais que o Filho do Homem tem autoridade” (Marcos 2:10).
“porque ele é o filho do homem “(João 5:27)
Alguns podem até resistir à interpretação exposta neste site, alegando que o contexto mostra que o versículo está falando sobre a condição limitada e inconstante do homem humano em que eles mentem e mudam as suas mentes ou exigem arrependimento por suas ações, e que Deus jamais agiria dessa forma. Sim, eu concordo que o contexto mostra que ele está falando sobre a limitação humana e como Deus não tem essas limitações, ou seja, sujeito a se arrepender. No entanto, eu não consigo ver como alguém poderia negar o fato de que o verso diz “Deus não é um homem … nem o filho do homem“. Na verdade, eu acho que o contexto apoia ainda mais minha posição, porque a mentira e se arrepender são inatas condições humanas. Assim, porque a natureza do homem contém a facilidade de mentir e de se arrepender, o versículo permite o contraste, confirmando que Deus não é um homem – Isso é o que o verso significa. Como diz o ditado “errar é humano”. Porque Deus não erra demonstra que ele não é homem, é porque ele não é o homem/humano que ele não erra! Alguns tentaram sugerir que Deus pode ser humano desde que ele se torna um ser humano perfeito que não mente, nem se arrepende, e chegaram a conclusão que foi nesse sentido que ele se tornou Jesus, que foi perfeito e sem pecado. Aqui é que entra o exemplo magnífico do Senhor para nós, nos possibilitando servi-lo como homem que somos, pois ele o foi. Ele foi perfeito sim, mas conseguiu isso obedecendo até a morte, se entregando a Deus com lágrimas. Podemos observar tudo isso começando pelas palavras de Paulo aos Filipenses 2:8
“E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”. E o versículo segue dizendo que através de sua submissão ele recebeu um nome que é exaltado acima de todo o nome,
“Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome”.
Foi por isso que Deus o exaltou, e não porque Jesus era o próprio Deus. Fica por demais fora de contexto se admitimos que Deus deu a Deus um nome que é acima de todos os nomes. A propósito, se ele era mesmo Deus enquanto aqui viveu, por que recebeu um nome acima de todo nome? Qual outro nome poderia estar acima do nome do Deus Jesus? Caso a se pensar…
O escritor aos Hebreus nos leva para o mesmo contexto apresentado em Filipenses onde encontramos expressões que de maneira brilhante revela a humanidade do Senhor Jesus,
“O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu”. Hebreus 5:7,8
O que vos parece, será essa uma descrição de Deus?
O fato em questão é que o versículo diz claramente que Deus não é um homem e Jesus é um homem e isso significa que Jesus não era Deus. Ele também diz que Deus não é o filho do homem, e Jesus era o filho do homem, o que é repetido 82 vezes nos evangelhos, o que deve simplesmente significar que Jesus não era [um] Deus. É um exercício muito simples e eu realmente acredito que qualquer pessoa razoável possa admitir isso.
Existem mais dois versículos que podem reforçar o argumento exposto até o presente momento. Observem a redação de 1 Samuel 15:29,
“Também a Glória de Israel não mente, nem se arrepende, porquanto não é um homem (adam lo), para que se arrependa.”
Deus não é um homem porque Ele não mente, nem se arrepende, e ele não mente, nem se arrepende, porque Ele não é o homem. Em ambos os casos, a negação é feita entre o Deus referente e o homem referente, isto é, não são os mesmos. Deus não é um homem (lo ish e eis adam).
O outro verso da série é ainda mais claro
“Não executarei o furor da minha ira; não voltarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; eu não entrarei na cidade”. (Oséias 11: 9)
Jesus não é Deus porque todo o contexto dos versos citados estão de acordo de que Deus não é um homem e a natureza dos versos são as mesmas em que nega que ele é um homem.